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Petrópolis, Porto Alegre - RS

Ansiedade?

Quando se fala em patologização da vida cotidiana, a ansiedade é a primeira coisa que me vem à mente, seguida por depressão e transtorno de humor bipolar. São queixas muito comuns de ouvir no consultório nas entrevistas preliminares e ao longo do processo.

A ansiedade é frequentemente a manifestação da angústia.

Acontece que muita gente confunde ansiedade com insegurança e temor normais.

Na maioria das vezes não é ansiedade no sentido de transtorno, mas a ansiedade natural que sentimos frente a situações angustiantes. Por exemplo, quando temos uma apresentação importante no trabalho, quando nos sentimos sem controle, quando temos um prazo muito justo para fazer uma tarefa difícil, ou até quando não conseguimos nos organizar direito e ficamos sem saber por onde começar. Nada disso é patológico.

 

Transtorno de ansiedade é muito mais intenso, recorrente e acompanha diversos outros sintomas físicos.

 

A ansiedade patológica está lá pra avisar que tem um conflito gritando por resolução. A ansiedade cotidiana é apenas uma resposta adequada a uma situação que é naturalmente ansiogênica. Uma pessoa que sofre de transtorno de ansiedade apresenta esse sintoma em situações que normalmente não gerariam ansiedade. O mesmo vale para depressão; é comum ouvir que uma pessoa que está atravessando um luto tem depressão, quando na verdade o luto é um processo saudável que envolve tristeza e de maneira nenhuma é uma depressão (o que falta é as pessoas em volta tolerar em a tristeza do outro que as assusta muito). Assim como pessoas muito indecisas e imprevisíveis não são bipolares nem têm qualquer transtorno de humor. Mudar de ideia e de humor é comum e saudável. Organização também não é transtorno obsessivo compulsivo e pode ser simplesmente uma característica de um sujeito que tem uma fixação maior na fase anal, que nem sempre é patológica.

 

Então cuidado ao falar e, principalmente, a ouvir sobre ansiedade, depressão, transtorno de humor, transtorno de personalidade, etc. É natural, em uma sociedade como a nossa que medica qualquer coisa que seja levemente incômoda, receber um paciente que acha que suas angústias são gravíssimas quando não são e que até tenha recebido muitos diagnósticos errados ao longo da vida. Mas a escuta analítica não é qualquer escuta. Precisamos simplesmente escutar até poder afirmar com segurança do que se trata. Tolerar o desconhecido (o -k na teoria de Bion) dentro de si é tarefa essencial do analista. Escuta qualificada e arsenal teórico para diferenciar patologia de saúde também.

 

Escrito por:
Fernanda Soibleman Kilinski

CRP: 07-19871 - Porto Alegre - RS

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