A quarentena me remeteu a um texto de Winnicott (psicanalista da escola inglesa, da segunda geração) que eu adoro: “A capacidade de estar só”. ⠀
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Conseguir estar só é uma conquista que diz respeito não só à solidão real, mas também àquela solidão interna. ⠀
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Estar só significa um ego integrado e uma internalização do objeto. O bebê adquire essa capacidade quando a mãe sai, mas o objeto interno é bom e estável o suficiente para tolerar a angústia da ausência. ⠀
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É uma capacidade que denota o afastamento de defesas contra a ansiedade, como (paradoxalmente) a reclusão. ⠀
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Portanto, é com nossas experiências em um ambiente suficientemente bom, que nos apresentou objetos bons, que adquirimos a confiança necessária para ficarmos sós. ⠀
Por isso que determinadas pessoas não toleram ficar em casa num final de semana e precisam estar sempre rodeadas de pessoas. São pessoas que tiveram falhas nesse momento do desenvolvimento e que não puderam conquistar a confiança necessária no objeto para aguentarem a solidão. ⠀
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Pessoas que ficam muito tempo sozinhas e não conseguem socializar também podem ter a mesma falha, mas se utilizar de uma defesa contra o objeto para evitar novas frustrações. ⠀
Em todos estes casos, cabe ao psicólogo fornecer um ambiente seguro e fazer as vezes da mãe suficientemente boa para reparar as falhas anteriores. ⠀
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Em tempos de isolamento forçado, fomos obrigados a colocar essa capacidade à prova.