A produtividade está ligada à criatividade. Criar algo de valor depende de investimento emocional e desejo. Nada de valor pode sair de um sujeito tratado como máquina. A criatividade, conceito winnicottiano tão importante para a saúde mental, tem a ver com a inveja que o bebê sente do corpo da mãe capaz de criar vida – essa é a raiz do nosso potencial criativo, por isso muita gente se refere às suas criações como seus filhos. Dar à luz uma ideia e vê-la tomar forma, evoluir, seguir seu caminho e realizar algo.
Criação e produção (de valor) exigem investimento libidinal. Tudo que a gente cria, inconscientemente, corresponde a criar vida, uma coisa fantástica e fonte da nossa mais primitiva cobiça. O desejo sempre está presente no que produzimos, muitas vezes sob a forma de sublimação. Mecanizar a produtividade de alguém é desumanizar. É tirar a criatividade do processo. O ser humano é subjetivo e não é capaz de produzir incessantemente sem adoecer. Essa produtividade idealizada não passa de uma fantasia de onipotência que, como toda defesa, nunca consegue ser plenamente eficaz e sempre vai cobrar um preço a longo prazo. A gente precisa de mais do que trabalho pra ter uma vida minimamente satisfatória e, convenhamos, ninguém consegue ser produtivo o tempo todo, nosso desejo não se limita à esfera profissional e quem investe toda libido no trabalho tem, no mínimo, uma vida empobrecida – e talvez um infarto. Essa cobrança de ego ideal hiperprodutivo é fonte de culpa pra muita gente que compra esse mito de que é possível um psiquismo produzir a despeito de tudo mais. A vida fica resumida a quanto eu produzo e essa performance vai definir se eu tenho valor ou não. Só que não é possível se sentir valorizado se a meta está sempre na ordem do irrealizável.